lunes, 30 de mayo de 2011

Grupo Sotz’il leva ancestralidade maia à cena

Revista de la VI Muestra Latinoamericana de Teatro de Grupo

O artigo de capa deste jornal, endossado coletivamente pelo Centro Cultural Sotz’il Jay, a casa do Grupo Sotz’il na Guatemala, contextualiza a noção cíclica da vida percebida e praticada pela cultura maia. O espetáculo Oxlajuj B’aqtun constitui um rito espiritual e artístico que dialoga profundamente com os ancestrais daquele povo indígena. A começar pela evocação que a montagem faz ao então guia espiritual e coordenador da entidade, Lisandro Guarcax, sequestrado, torturado e assassinado em agosto passado, aos 32 anos (ele promoveu e pesquisou a arte pré-hispânica por meio das artes, impulsionou o movimento da Juventude Indígena junto a outros núcleos comunitários).

Atores de dançarinos do Grupo Sotz'il durante ensaio na Guatemala

No site do grupo (www.gruposotzil.org), lemos: “Esta montagem acontece em nome dos nossos avôs e avós, a eles devemos os conhecimentos e a inspiração, estamos aqui para continuar o seu legado. Também é uma homenagem a todos os avôs e avós que lutam para manter o equilíbrio desde a Resistência do Povo Maia”. Resistência de século de exploração colonial ou de décadas de cicatrizes pela guerra civil, conjunção histórica comum a vários países da América Central ou da América do Sul. Como costumava dizer Lisandro Guarcax em sua língua-mãe: “Desejamos que todos os nossos esforços se traduzam em conhecimento do outro”.

Pois a alteridade mediará o encontro do público brasileiro e dos demais espectadores latino-americanos com a criação do Sotz’il que abre esta noite a VI Mostra. Foram meses de preparação para trazer Oxlajuj B’aqtun à luz em março passado e subverter a cultura ocidental que prega o fim do mundo quando na realidade o índio compreende a natureza em ciclos.

Na cultura maia, o encerramento de uma era implica uma longa conta de cinco medidas de tempo, como q’ij (dia), winäq (20 dias), tun (360 dias), k’atun (20 anos) y b’aqtun (400 anos), os quais vão mudando com o passar dos dias e numerais do calendário sagrado, o Cholq’ij. “Se se antepõe ao b’aqtun (unidade de medida do tempo mais larga) o número sagrado 13 (Oxlajun), o resultado é a duração de una era maia, quer dizer, Oxlajun B’aqtun equivale a 13 períodos de 400 anos, ou 5.200 vezes 360 dias, equivalente a que os dias e as eras se sucedem, pois na era maia o tempo caminha através de uma espiral em que se situam de forma paralela o passado e o futuro”, informa o grupo na web.

Em meio a essa relação temporal e espacial plena de símbolos e energias, a dramaturgia desce ao plano dos conflitos terrenos. Os senhores de Xib’alb’a’ (os donos do inframundo) enfrentam os gêmeos Jun Ajpu’ e Yaxb’alamkej, representados como o ser humano e o espírito. Eles refletem as forças duais, mas necessárias à existência.

Além dos elementos teatrais, a criação coletiva dirigida por Víctor Manuel Barrillas Crispín – são nove atores em cena – costura referências da dança e da música sempre a partir de suas raízes. O grupo é formado por jovens da etnia kaqchikel e soma dez anos de trabalhos artísticos e culturais. Terra de milho, ou Iximulew, é como a Guatemala é definida na tradição maia.

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