Evocando a profecia maia sobre o fim do mundo, o grupo guatemalense Sotz'il, descendente dos povos Maias, apresenta-se gratuitamente até sábado em diversas praças de Fortaleza
O espetáculo é um manifesto de subversão ao fim do mundo ocidental |
Pela primeira vez em Fortaleza, o espetáculo Oxlajuj B’aqtun é um manifesto de subversão ao fim do mundo ocidental. Conta a tradição Maia, que os tempos não irão findar-se de uma hora para outra, mas irão se renovar. De acordo com o diretor Víctor Manuel Barrillas Crispín, no dia 21 de dezembro haverá uma mudança de era para o calendário Maia e o espetáculo retrata isso. “O mundo não vai acabar, é um momento de transcendência. Mudaremos para o momento de claridade. Para nós, isso é cíclico, não é radical”, diz ele.
Ele explica que é preciso compreender o trabalho como uma interação energética entre público e artistas sobre o “fim do mundo”. Segundo ele, a ideia é se opor à “visão apocalíptica dos filmes de Hollywood”, pois o espetáculo é essencialmente uma evocação à natureza, uma forma de cerimônia transformadora, que enfatiza a resistência da cultura tradicional indígena na Guatemala. “O espetáculo converge música, dança, espiritualidade e política. Não podemos desvincular nenhuma dessas características porque deixaria de ser arte Maia”, complementa.
O trabalho será apresentado a céu aberto no jardim do Theatro José de Alencar, na Praça do Ferreira, na Praça José de Alencar e na Praça Luiza Távora. Apesar de parecer uma cultura distante, há traços da arte guatemalense que se encontram diretamente com a cultura brasileira. “Os indígenas latino-americanos praticamente são povos ancestrais. Tem muita relação com a música, a dança, o canto. Eles também transcendem espiritualmente. É o mesmo com os rituais afrodescendentes”, explica Victor.
Com percussão forte e instrumentos de sopro, nove jovens da etnia kaqchikel apresentam a encenação popular. Durante sua trajetória, o grupo já soma dez anos de trabalhos artísticos. A direção da obra coloca os jovens em primeiro plano, pois propõe a criação cênica de maneira coletiva, onde os indígenas também intervêm diretamente nas maneiras de vivenciar e construir o trabalho.
Dor que vira arte
Há
pouco tempo, o grupo passou por um momento muito difícil na sua
jornada. Lisandro Guarcax, que era coordenador do coletivo até 2010, foi
torturado até a morte. O resultado foi refletido em cena. “Isso
aconteceu pela intolerância que existe de alguns grupos políticos. Na
guerra interna da Guatemala, houve o costume de assassinar as pessoas
que pensavam diferente, e por essa razão aconteceram ataques gratuitos
em direção ao povo Maia”, relembra.
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